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Sábado, 31 Outubro 2020 11:01

Como lidar com uma crise de desinformação

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Por Brian X. Chen - The New York Times

As notícias falsas estão aumentando, mas é possível combater sua propagação com um exercício simples: desacelerar um pouco a comunicação e ser cético ao que se vê na tela

Uma doença vem se espalhando há anos. Assim como qualquer vírus resiliente, ela evolui para encontrar novas maneiras de nos atacar. Não está nos nossos corpos, mas, sim, na internet. Essa doença tem diferentes nomes: desinformação, má informação, distorção da realidade, notícias falsas, fake news... Qualquer que seja seu nome, ela pode ser prejudicial, especialmente agora que está sendo produzida em meio a vários eventos com grande carga emocional, como a pandemia do coronavírus e as eleições. 

O enxame de informações falsas ou equivocadas que circulam na web foi intenso o suficiente para sobrecarregar Alan Duke, editor do Lead Stories, um site de checagem de fatos. Por anos, disse ele, notícias desse tipo consistiram sobretudo em artigos falsos que giravam em torno de temas bobos, como o mito de colocar cebolas nas meias para curar resfriado. Mas a desinformação agora se infiltrou em cantos muito mais sombrios e sinistros e assumiu formas como o meme, que muitas vezes é uma imagem manipulada ou sobreposta por um texto sensacionalista.

Ele citou um exemplo prejudicial de memes: aqueles que atacaram Breonna Taylor, a profissional de saúde negra de Louisville, Kentucky, que foi morta por policiais quando entraram em sua casa, em março. Os propagadores de desinformação geraram memes sugerindo que Taylor teria atirado nos policiais primeiro, o que não é verdade. “O mais perigoso provavelmente são os memes”, disse Duke. “Em 20 palavras, alguém pode dizer algo que não é verdade, e as pessoas vão acreditar e compartilhar. Um negócio criado em dois minutos’.

É impossível quantificar quanta informação falsa está circulando agora, porque a disseminação online é inesgotável. Katy Byron, que lidera um programa de alfabetização midiática no Poynter Institute, uma organização de jornalismo sem fins lucrativos, disse que o volume de informações falsas está aumentando. Ela trabalha com um grupo de adolescentes que rastreia regularmente informações falsas, 

Antes da pandemia, o grupo apresentava alguns exemplos de desinformação a cada poucos dias. Agora, cada aluno está relatando vários exemplos por dia. “Com a pandemia, as pessoas estão cada vez mais online, lendo uma notícia negativa atrás da outra e procurando informações confiáveis”, disse ela. “Está cada vez mais difícil encontrar informações seguras e ter certeza de que você está consumindo fatos”.

A desinformação, disse ela, também está se infiltrando nos vídeos. Com ferramentas de edição modernas, ficou muito fácil para pessoas com um mínimo de equipamento e um pouco de conhecimento técnico produzir vídeos que parecem ter alto valor de produção. Muitas vezes, vídeos de verdade são tirados de contexto e combinados para contar uma história diferente.

A ascensão das notícias falsas é uma má notícia para todos nós. A desinformação pode ser prejudicial ao nosso bem-estar numa época em que as pessoas estão procurando desesperadamente informações, como diretrizes de saúde sobre o coronavírus para compartilhar com seus entes queridos. Essas notícias também podem alimentar nossa raiva e nos levar a cometer alguma violência. Mais que isso: podem nos induzir a votar mal numa pandemia que virou nosso mundo de cabeça para baixo.

Como podemos evitar que alguém nos manipule e que espalhemos informações falsas para as pessoas de quem gostamos? Alguns velhos métodos para detectar notícias falsas – como atentar para erros de digitação e endereços de web que tentam se passar pelos de veículos confiáveis – agora são menos relevantes. Precisamos empregar métodos mais sofisticados de consumo de informações, como fazer nossa própria verificação de fatos e escolher fontes de notícias com credibilidade. Aqui está o que podemos fazer.

Seja um verificador de fatos

Acostume-se com este atalho de teclado: Ctrl + T (ou Command + T no Mac). Isso abre uma nova guia de navegador no Chrome e no Firefox. Você vai usar muito esse comando. O motivo: abrir uma nova guia permite que você faça perguntas e, com sorte, obtenha algumas respostas com uma rápida pesquisa na web.

Tudo isso faz parte de um exercício que Byron chama de leitura lateral. Ao ler um artigo, a primeira etapa é abrir uma guia do navegador. O segundo passo é fazer a si mesmo estas perguntas:

- Quem está por trás da informação?

- Quais são as evidências?

- O que as outras fontes estão dizendo?

A partir daí, com a nova guia do navegador aberta, você pode começar a responder a essas perguntas. Você pode fazer uma pesquisa na web sobre o autor do conteúdo, quando possível. Ou pode fazer outra pesquisa para ver o que outras publicações estão dizendo sobre o mesmo assunto. Se a afirmação não estiver sendo repetida em outro lugar, talvez ela seja falsa.

Você também pode abrir outra guia do navegador para ver as evidências. Com um meme, por exemplo, você pode fazer uma busca reversa de imagem com a foto que foi usada no meme. No Google, clique em Imagens e faça o upload da foto ou cole o endereço de web da foto na barra de pesquisa. O resultado mostrará os outros lugares onde a imagem apareceu na internet, assim você pode verificar se ela foi manipulada.

Com os vídeos, é um pouco mais complicado. Você pode instalar um plugin de navegador chamado InVID no Firefox e no Chrome. Ao assistir a um vídeo, você pode clicar na ferramenta, clicar no botão Keyframes, colar um link de vídeo (um clipe do YouTube, por exemplo) e clicar em Enviar. A partir daí, a ferramenta puxará quadros importantes do vídeo, e você poderá fazer uma busca reversa de imagem com esses quadros para ver se são legítimos ou falsos.

Algumas das etapas técnicas acima não são para os fracos. Mas o mais importante é a lição: pare um momento para pensar. “A regra número 1 é desacelerar, parar e perguntar a si mesmo: ‘Tenho certeza o suficiente sobre a veracidade desse conteúdo para compartilhar?’”, disse Peter Adams, vice-presidente sênior do News Literacy Project, uma organização sem fins lucrativos de educação para a mídia. “Se todos fizessem isso, veríamos uma redução drástica na desinformação online”.

Escolha suas fontes com cuidado

Embora os sites como o Facebook e o Twitter nos ajudem a ficar conectados com as pessoas de quem gostamos, há uma desvantagem: até mesmo as pessoas em quem confiamos podem espalhar informações falsas sem saber, então corremos o risco de ser pegos desprevenidos. E, com tudo misturado num único feed de rede social, fica mais difícil distinguir informações boas e informações ruins, fato e opinião.

O que podemos fazer é mais um exercício de atenção plena: seja cuidadoso com a fonte de onde você obtém suas informações, disse Adams. Em vez de depender apenas das informações que aparecem nos seus feeds de rede social, escolha um conjunto de veículos em que você confia, como um jornal, uma revista ou um programa de notícias, e consulte-os regularmente.

A mídia convencional está longe de ser perfeita, mas está sujeita a um processo de padrões de exigência que geralmente não se aplicam aos conteúdos gerados pelos usuários, incluindo os memes. “Muitas pessoas caem na armadilha de pensar que nenhuma fonte de informação é perfeita”, disse ele. “É aí que as pessoas começam a se sentir perdidas e oprimidas e se abrem para fontes das quais deveriam ficar bem longe”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Última modificação em Sábado, 31 Outubro 2020 11:36

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